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Rio, capital permanente dos BRICS

Cosmopolita por natureza, a capital fluminense está de braços abertos para o mundo. Para consolidar essa vocação, seria bem-vinda a sua elevação à condição de sede permanente do bloco geopolítico


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Eduardo R. Gomes

Doutor em Ciência Política. Coordenador do NuBRICS/UFF

Lier Pires Ferreira

PhD em Direito. Pesquisador do NuBRICS/UFF


Já era de domínio público, Eduardo Paes já havia anunciado, mas a confirmação oficial do Rio de Janeiro como sede da Reunião de Cúpula dos BRICS ocorreu no dia 15 de fevereiro. Uma reunião do alcaide com o ministro das Relações Exteriores, o niteroiense Mauro Vieira, na Gávea Pequena, sedimentou o Rio como cidade-sede do encontro, que irá ocorrer em julho de 2025.


Tânia Rêgo/Agência Brasil
Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Rio de Janeiro é uma cidade singular. Foi a única no Sul-Global a ser sede de um império colonial europeu, na condição de capital do Reino Unido de Brasil e Portugal (1815-1822). Desde o início século XX, quando ainda ostentava a fleuma de capital da República, o Rio de Janeiro tem sido palco de grandes eventos, como a Exposição Internacional do Centenário da Independência, em 1922; a Conferência do Rio, em 1942; ou a Copa do Mundo de 1950, de triste lembrança. No início dos anos 1990, a cidade também acolheu a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a ECO-92; e a Reunião de Cúpula da América Latina, Caribe e União Europeia, com representantes de quase 50 países. Mas foi no século XXI que o Rio de Janeiro firmou sua vocação de palco global, com eventos sucessivos como os XV Jogos Pan-Americanos, em 2007, a Rio + 20, em 2012, a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.


É importante lembrar que todos esses eventos ocorreram sem qualquer intercorrência, em que pese o ceticismo de muitos e a má-vontade de alguns. Portanto, cada Rock’n’Rio, cada Web Summit e cada Mondial de La Biere, sem esquecer a Conferência de Cúpula do G-20 e os mega-shows de artistas como Frank Sinatra, Paul McCartney, Rod Stewart, Michael Jackson, Madonna e Lady Gaga, tudo reforça a vocação da Cidade Maravilhosa como plataforma de grandes eventos. Todavia, falta a vivência diária, o dia-a-dia de uma verdadeira cidade-global, hiperconectada com o mundo. Falta um elemento fixo, que, para além do trinômio turismo, cultura e indústria do petróleo, alimente cotidianamente o Rio com cidadãos do mundo, com estrangeiros de toda parte, tão múltiplos e plurais quanto os cariocas. Hoje, essa oportunidade surge com os BRICS.


Estudiosos que somos desta jovem coalizão internacional, temos que reconhecer que os BRICS não têm um endereço institucional. Diferente de outros entes internacionais, como a ONU, com sede em Nova York, nos Estados Unidos, ou a OMC, baseada em Genebra, na Suíça, os BRICS não possuem sede fixa e um secretariado permanente. Depois de quinze anos de sucessivas reuniões de cúpula dos Chefes de Estado de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, emitindo declarações de cúpula a cada uma delas, após a entrada de novos membros, como Arábia Saudita, Egito e Irã, os BRICS permanecem sem um endereço institucional, sem um elemento identitário que expresse a maturidade política do grupo.


Sabemos que nada é aleatório na política internacional. Portanto, estamos cientes de que há inúmeros motivos para que esta coalizão assimétrica de países do Sul Global ainda não disponha de uma sede fixa e de um secretariado permanente. A diversidade socioeconômica, política e cultural de seus membros, a necessária flexibilidade das decisões, os altos custos de uma estrutura física e as questões de segurança envolvidas são dificultadores “naturais”. Consensos são difíceis de serem alcançados, mas é necessário avançar.


Os membros dos BRICS têm inúmeras atividades. Desde questões econômicas, como a construção de um mecanismo comum de comércio, a pretensa “moeda dos BRICS”, até a mediação de conflitos internacionais, como a Guerra Russo-Ucraniana, passando pelo espinhoso tema da governança global, da segurança alimentar e da promoção do desenvolvimento sustentável e universal, os BRICS têm muito a contribuir com o mundo ora em construção.


Portanto, uma sede física e um secretariado permanente são investimentos necessários à coalizão, estimulando que os BRICS atuem mais sistematicamente na arena internacional. Além disso, um secretariado profissionalizado poderia oferecer suporte técnico e logístico para avançar agendas prioritárias, como comércio, investimentos, inovação tecnológica, segurança energética, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, articulando múltiplos atores, estatais e sociais, domésticos e internacionais.


O Rio de Janeiro está pronto e merece ser a capital permanente dos BRICS, resgatando sua centralidade política, econômica e sociocultural. Cosmopolita, a cidade que outrora recebeu grande parte dos escravizados que sofreram a diáspora africana e ostenta a maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca, seria facilmente convertida num hub diplomático, uma ponte verde entre o Ocidente e o Oriente. Plural por natureza, o Rio poderá potencializar as forças criativas do Sul-Global em favor de uma nova ordem internacional, multipolar, livre de hegemonias, capaz de materializar os anseios de desenvolvimento e nova inserção internacional que há séculos permeiam as lutas dos povos afro-asiáticos e latinoamericanos contra as diferentes expressões da colonialidade.

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