top of page
banner niteroi NQQ 780x90px 25 6 25.jpg

Rússia e Ásia Central ajustam rota de integração econômica

Por Cíntia Xavier, correspondente do Jornal Toda Palavra em Moscou


A visita de Vladimir Putin a Dushanbe, capital do Tadjiquistão, iniciada em 8 de outubro e que se encerrou no dia 10, abriu um ciclo de três dias de diplomacia regional centrado em dois encontros-chave: a segunda cúpula Rússia–Ásia Central, realizada na quinta-feira, 9 de outubro, e a reunião do Conselho de Chefes de Estado da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), realizada na sequência.


Reprodução
Reprodução

O presidente russo desembarcou na capital tadjique em visita de Estado, com agenda que combina encontros bilaterais com Emomali Rahmon e participação nos fóruns multilaterais dedicados a comércio, investimentos, logística, energia e segurança regional, com atenção especial às situações no Afeganistão e no Oriente Médio. Segundo o Kremlin, o formato a seis — Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão — tem como foco o fortalecimento da cooperação econômica e da estabilidade política na Ásia Central, incluindo discussões sobre o formato “CEI+” e o status de observador da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) na CEI.


No dia 10, a sessão da CEI ocorreu no Palácio da Nação, em Dushanbe, com formato primeiro restrito e depois ampliado; ao abrir sua intervenção, Putin descreveu a CEI como um “um bloco de integração reconhecido” que preservou, ao longo de três décadas, um mercado comum e um espaço humanitário compartilhado. Segundo as agências russas, os líderes aprovaram um pacote de documentos nas áreas econômica e de segurança.


Nas declarações públicas, Putin afirmou que Moscou pretende “aprofundar o caráter estratégico e aliado” dos laços com a região e propôs integrar os principais corredores de transporte euro-asiáticos em uma rede única para multiplicar fluxos de carga, ideia lançada durante a plenária do encontro Rússia–Ásia Central. O discurso enfatizou o “avanço planejado” no uso de moedas nacionais e a construção de uma malha logística unificada, acompanhados de planos para ampliar a cooperação energética e de infraestrutura sob coordenação russa.


Putin destacou que o comércio da Rússia com os cinco países da Ásia Central superou 45 bilhões de dólares em 2024 e que o país figura entre os principais investidores da região, com estoque superior a 20 bilhões. O presidente também defendeu a unificação de rotas e “obras estruturantes” na região, com participação de empresas russas na construção de novas hidrelétricas, em projetos de segurança de barragens e de gestão de recursos hídricos transfronteiriços.


No plano bilateral, o presidente da Federação Russa classificou as negociações com Rahmon como produtivas e afirmou que os dois países “praticamente” concluíram a transição para o uso de moedas nacionais, com mais de 97% das transações fora do dólar, além de um plano para ampliar em 2,5 vezes o comércio até 2030.


Reprodução
Reprodução

O comunicado conjunto prevê novas metas e foi acompanhado por pacotes setoriais, entre eles cooperação energética, oferta de tecnologia para modernização do parque gerador e interesse em parcerias de “átomo pacífico”, inclusive com pequenos reatores. Dados oficiais indicam crescimento do comércio bilateral para cerca de 1,5 bilhão de dólares em 2024 e investimentos russos acumulados de aproximadamente 500 milhões, com esforço conjunto para industrialização e criação de um parque têxtil integrado no país.


A dimensão migratória também teve papel central nas conversas entre os chefes da Rússia e do Tadjiquistão. As partes anunciaram acordos para organizar o recrutamento de trabalhadores tadjiques para atividades temporárias na Rússia, com exigência de exames médicos e abertura de representações oficiais voltadas à migração e assuntos internos. O Kremlin e a imprensa russa destacam que cerca de 1,2 milhão de cidadãos do Tadjiquistão vivem e trabalham atualmente na Rússia, enviando cerca de 1,8 bilhão de dólares em remessas em 2024 — o equivalente a 17% do PIB tadjique. O tema foi tratado com a presença do ministro do Interior russo na comitiva.


Na pauta regional, Putin tratou de dois temas sensíveis. Sobre o Afeganistão, afirmou que as atuais autoridades em Cabul demonstram disposição para cooperar com os países vizinhos em diversas áreas, inclusive no combate ao terrorismo e ao narcotráfico, e declarou que Moscou “está pronta para apoiar” essa orientação. Em relação à Gaza, o presidente russo disse que Moscou “não apenas observa” o conflito, mas tenta contribuir para um cessar-fogo, e apoiou a iniciativa de paz apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destacando a recepção positiva da proposta no mundo árabe e a manutenção de canais de confiança com Israel.


A visita também incluiu, no dia 9 de outubro, um encontro entre Putin e o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev — o primeiro desde o acidente com o Airbus A320 da companhia AZAL em 2024 no espaço aéreo russo. Segundo a imprensa de Moscou, a Rússia assumirá o pagamento de compensações às vítimas, gesto que acompanha a tentativa de distensão nas relações bilaterais. Aliyev agradeceu publicamente o movimento.


Reprodução
Reprodução

No dia 10, durante a sessão da CEI, o presidente russo informou que o comércio da Rússia com os países do bloco cresceu 7% em 2024 e alcançou 112 bilhões de dólares, com a maioria das liquidações já em moedas nacionais. Ao final dos trabalhos, os líderes participaram de uma recepção oficial oferecida por Emomali Rahmon.


Após a cúpula da CEI, Putin reuniu-se ainda com o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, para tratar de cooperação bilateral e integração regional.


Com o encerramento da agenda da CEI prevaleceu em Dushanbe a mensagem de continuidade e aprofundamento dos vínculos. Os anfitriões enfatizam a densidade dos laços com Moscou, apontando o Tadjiquistão como parceiro de confiança na região, e Putin apresentou a cooperação bilateral como modelo para a consolidação de um espaço econômico e energético comum na Ásia Central.


Em perspectiva regional, o discurso russo dialoga com a linha já analisada por este jornal sobre a convergência de interesses russo-chineses no interior do continente. Em novembro de 2023, o Toda Palavra destacou como Moscou vê a região como eixo do “grande espaço euro-asiático” — conceito que hoje se traduz na aposta em liquidações em moedas nacionais, integração logística e projetos industriais de base.


Reprodução
Reprodução

Convém também lembrar que em junho desse ano, a capital do Kazaquistão sediou a segunda cúpula China–Ásia Central, marcada pela assinatura de um tratado de “boa vizinhança permanente e cooperação amistosa” e pela adoção da “Declaração de Astana”, que consolidou a aceleração da ferrovia China–Quirguistão–Uzbequistão, ampliou projetos de hubs e “portos secos” e registrou novos compromissos em energia e minérios críticos. A iniciativa reforça o papel de Pequim como investidor e organizador de rotas alternativas no coração do continente, num contexto em que Moscou procura afirmar sua presença por meio de projetos próprios de integração.


A crescente competição por minérios críticos na Ásia Central expõe o interesse direto das grandes potências em moldar o futuro econômico da região. Estados Unidos e União Europeia buscam garantir acesso a recursos estratégicos e direcionar cadeias de fornecimento para seus próprios mercados, muitas vezes sem incentivo à industrialização local.


Reprodução
Reprodução

Analistas destacam que essa abordagem contrasta com a de China e Rússia: Pequim intensifica investimentos em mineração e integração com suas cadeias industriais por meio da Nova Rota da Seda, enquanto Moscou tenta reafirmar seu protagonismo oferecendo tecnologia e capital em projetos industriais conjuntos e de infraestrutura.


Nesse cenário, as propostas de Putin sobre integração energética e desenvolvimento industrial reforçam o esforço russo para manter relevância e presença estruturante diante da pressão ocidental. O fortalecimento do chamado “nacionalismo de recursos”, com governos criando listas de minerais prioritários e mecanismos de controle interno, reflete a tentativa dos países da região de preservar soberania sobre seus ativos e equilibrar pressões externas.


Ao fim da passagem por Dushanbe, o Kremlin busca três entregas principais: consolidar um arcabouço previsível para a cooperação migratória com o Tadjiquistão, avançar na criação de uma rede comum de infraestrutura e corredores euro-asiáticos sob liderança russa e reafirmar sua posição como parceiro estrutural de segurança e investimento num tabuleiro em que a China amplia presença e o Ocidente mira recursos e rotas. A sucessão de encontros com líderes regionais, a tentativa de distensão com Baku e o discurso de integração logística indicam a direção desse esforço.


*Com informações de: Российская газета, РИА Новости, Ведомости, Московские новости, mk.ru, mk.kg, Interfax-Kazakhstan, Reuters e en.kremlin.ru

 
 
 
cvv.jpg
banner niteroi NQQ 300x250px 25 6 25.jpg
Chamada Sons da Rússia5.jpg

Os conceitos emitidos nas matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião do jornal. As colaborações, eventuais ou regulares, são feitas em caráter voluntário e aceitas pelo jornal sem qualquer compromisso trabalhista. © 2016 Mídia Express Comunicação.

A equipe

Editor Executivo: Luiz Augusto Erthal. Editoria Nacional: Vanderlei Borges. Editoria Niterói: Mehane Albuquerque. Editor Assistente: Osvaldo Maneschy. Editor de Arte: Augusto Erthal (in memoriam). Financeiro: Márcia Queiroz Erthal. Circulação, Divulgação e Logística: Ernesto Guadalupe.

Uma publicação de Mídia Express 
Comunicação e Comércio Ltda.Rua Eduardo Luiz Gomes, 188, Centro, Niterói, Estado do Rio, Cep 24.020-340

jornaltodapalavra@gmail.com

  • contact_email_red-128
  • Facebook - White Circle
  • Twitter - White Circle
bottom of page