Uma rodada de pôquer no Planalto
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Uma rodada de pôquer no Planalto


Por Rubens dos Santos Oliveira

Presidente do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo – SINTRONAC


A cena é a de um jogo de pôquer. Sentados à mesa, o presidente da República e seus ministros. O chefe saca uma carta e ameaça entrar em guerra com a maior potência mundial. “Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”, disse ele. Pouco antes, já havia comemorado a morte de um voluntário, que testava uma vacina contra uma doença que matou milhares de seus conterrâneos. “Mais uma que eu ganho”, regozijou-se. Seus subordinados também fazem suas apostas, cada um em sua área, para mostrar afinação com a “fezinha” ideológica do governante. Mas veio da Economia o blefe simulando um Royal Straight Flush, ou Sequência Real em português. “Vamos ter hiperinflação”, tirou o ministro da manga.


Pronto, rodada encerrada. Nada supera o Royal. Imediatamente após a sacada do ministro da Economia, as moedas estrangeiras subiram e a Bolsa de Valores caiu. Os títulos públicos desvalorizaram, comprometendo o mercado de renda fixa e afastando ainda mais os investidores. Os produtos da cesta básica, sobrecarregados por um reajuste significativo, dada a preferência dos produtores pela exportação, entraram na linha de risco para novos aumentos artificiais de preços. E no horizonte, os contornos de um colapso estão mais nítidos. Tudo porque a única pessoa em um país que nunca pode mencionar a palavra hiperinflação resolveu dissimular sua estratégia de controle das contas públicas e lançá-la aos quatro ventos.


O Brasil tem sido conduzido assim, como em um jogo de pôquer transmitido pela televisão e pelas redes sociais, mas com o foco de luz nos rostos dos jogadores e não em suas mãos, onde guardam os grandes truques. Mentiras, trapaças e trocadilhos infames pontuam o cotidiano de um governo que, até agora, apenas escondeu seu verdadeiro jogo, ao invés de apresentar um plano de recuperação econômica; uma medida para geração de empregos e renda; ou uma ação para reduzir o abismo social, que concentra em 1% da população mais rica mais do que suficiente para sustentar com conforto os 40% mais pobres.


O Congresso Nacional, por seu lado, se limita a uma guerra vazia de acusações e notas de repúdio transmitidas à nação pelo Twitter, como reação a falas fúteis, prepotentes ou escatológicas do presidente da República e seus ministros.


Enquanto isso, projetos importantes para o país ricocheteiam pelos corredores da burocracia parlamentar. Onde está, por exemplo, o Projeto de Lei 3364/2020, que prevê auxílio de R$ 4 bilhões para as empresas do setor de transporte público, destruídas pela pandemia do Covid-19? A doença chegou ao Brasil oficialmente em março, o PL foi aprovado na Câmara Federal em 26 de agosto e seguiu para o Senado. Estamos em novembro e, até o fechamento desse artigo, não se teve mais notícia da medida. Quem chega primeiro: o socorro da vacina ou a ajuda financeira?


Assim, os preços dos alimentos aumentam, o desemprego avança, a economia se autodevora e os trabalhadores veem seus salários diminuírem a cada mês. Seria melhor dizer a cada semana, pois nosso suado dinheirinho termina bem antes de 30 dias.


Na base do SINTRONAC, que compreende 13 municípios, de Niterói a Arraial do Cabo, 3.539 rodoviários foram demitidos de março a 9 de novembro, como resultado da pandemia, que encolheu, em sete meses, o faturamento das empresas em 60%, percentual comparado ao mesmo período do ano passado. Nem o Benefício Emergencial do Governo Federal, que atrela as companhias signatárias à estabilidade no emprego de seus funcionários, adiantou para conter o fechamento de postos de trabalho no setor. Elas pagam a multa determinada por Lei e encerram os contratos, caso contrário a opção seria pedir falência e fechar as portas. Dos governos estadual e municipais, não recebemos nenhum apoio.


Portanto, está na hora dos trabalhadores brasileiros deixarem de lado essas picuinhas medíocres tramadas em Brasília e passarem a cobrar do Governo Federal, dos estaduais e municipais políticas que atendam aos reais interesses do povo. Precisamos de emprego, renda e desenvolvimento econômico. Isso é o que move, de fato, um país. Esse é o nosso Royal Straight Flush, sem blefes.

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