O agro é pop? E a fome que assombra o Brasil?
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O agro é pop? E a fome que assombra o Brasil?

Atualizado: 25 de out. de 2021

Por Mehane Albuquerque


O agro não é pop, não é tech e não é tudo, como prega a campanha veiculada na TV Globo em horário nobre, no ar desde 2016. A propaganda com belas imagens que coloca o agronegócio como motor da economia e 'riqueza do Brasil', segundo a Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e a FES Brasil (Fundação Friedrich Ebert), é um grade engodo.

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Um estudo feito em parceria pelas duas entidades, e divulgado na última quinta-feira (21/10), mostra que essa 'riqueza' toda não vai para a mesa da maioria da população brasileira. Ao contrário, passa bem longe dos lares do país, especialmente dos mais pobres, contribuindo para o aumento da insegurança alimentar.


Assinado por Marco Antônio Mitidiero Júnior e Yamila Goldfarb, o estudo aponta que o setor fomenta a desigualdade e agrava a situação de 55% da população que não sabe se terá o suficiente para se alimentar no dia seguinte.


A análise de dados da balança comercial, do PIB e do IBGE, revelam que o agro pouco contribui com o Produto Interno Bruto (PIB), traz altos custos ao Estado, gera poucos empregos e é o grande responsável por devastações ambientais. Isso sem falar na introdução de transgênicos nas culturas e no uso indiscriminado de defensores agrícolas.


Para entender os principais argumentos apresentados pela pesquisa 'Agro não é tech, não é pop e muito menos tudo', o geógrafo Marco Mitidiero, co-autor do estudo e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), explica os resultados obtidos.


"A análise nos mostra que, embora o agronegócio seja o setor da economia que exporte mais, ele leva o Brasil ao que estamos chamando de reprimarização da economia. Ou seja, uma economia pautada em produzir matérias-primas e importar produtos industrializados. E embora seja um dado mundial, o Brasil aparece como um dos cinco países que sofre o maior processo de desindustrialização. Isso nos aponta a uma interpretação, que é a inserção subalterna do Brasil no mercado mundial. O segundo ponto foi pensar na produção de riqueza, analisamos os dados do PIB, divididos nos três setores da economia: agropecuária, indústria e comércio. Os dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] mostram que o agronegócio é o que menos contribui com a produção de riqueza. A média de participação do agronegócio na riqueza nacional é de 5%", afirma Mitidiero.

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Outra questão ressaltada pelo geógrafo é o custo. Segundo ele, o estado brasileiro é o responsável pela maior quantidade dos créditos disponibilizados à agricultura e à pecuária.


"O agro recebe um monte de dinheiro enquanto a agricultura camponesa ou familiar recebe pouco recurso público. Depois fomos ver o quanto ele nos devolve. O estudo apontou que o agronegócio praticamente não paga imposto. Então não é à toa que está todo mundo exportando enquanto está faltando comida no Brasil", alerta.


Em relação à geração de empregos, o agro também não tem maior participação, na medida em que as grandes plantações vêm substituido a mão de obra dos trabalhadores por máquinas cada vez mais sofisticadas. Marco Mitidiero observa que durante a pandemia o agronegócio não parou e até bateu recorde de produção. Mas o desemprego aumentou de forma alarmante.


O levantamento mostra, ainda, a relação do agronegócio com a devastação ambiental. Os efeitos negativos da supressão da vegetação nativa para dar lugar a monoculturas extensas, como a da soja, começam evidenciar que o país se aproxima do chamado 'ponto de não retorno'. Os sinais são claros: crise hídrica, nuvens de areia, secas cada vez mais acentuadas e eventos extremos do clima.


"O agronegócio, com a sua narrativa, não engana mais ninguém: a população está passando fome! Não tem arroz, não tem feijão, não tem carne. Agora não tem ovo. No começo das filas da fome nós víamos brasileiros fazendo fila porque um açougueiro de Cuiabá estava doando ossos. Agora nós estamos vendo fila para comprar ossos. O agronegócio é, portanto, nada mais e nada menos do que um negócio. Não está preocupado em alimentar a população em nenhum lugar do planeta", diz o geógrafo.


A solução para resolver o problema da fome, de acordo com Mitidiero, passa pela reforma agrária, "a principal política pública que o Estado brasileiro deveria encampar para a produção de alimentos para a sua população". Passa, também, pelo apoio a pequenos produtores rurais, que no governo Temer diminuiu significativamente, e agora, no governo Bolsonaro, praticamente não existe. A pesquisa alerta que as políticas de apoio a estes produtores e à agricultura familiar precisam ser retomadas.


"Talvez o nosso estudo deixe transparecer, e eu aproveito para dizer que não é bem assim, uma ideia de que bastava o agronegócio então produzir para a sua população, que bastava a gente apostar na industrialização. Não é essa a ideia, mas pensar um outro mundo. O que fizemos no texto foi cumprir o papel de advogado do diabo: até do ponto de vista do capitalismo, o agronegócio é um mau negócio", finaliza.


Veja o vídeo de apresentação da pesquisa


*Com informações da Abra, FES-Brasil e Brasil de Fato.






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